Ontem eu passei uns 40 minutos na frente de uma PetShop. Eu precisava esperar um pouco então o banco ao lado de 2 passarinhos soltos me pareceu uma única boa opção. Apesar de ser vegana, achei que aqueles passarinhos me fariam uma boa companhia. O tempo que eu fiquei ali sentada observei e refleti sobre algumas coisas bem óbvias sobre a relação entre humanos e animais não-humanos, mas que me incomodaram bastante.
Os dois estavam em algo que era como um poleiro, onde os passarinhos tinham uns “brinquedinhos” para ficar subindo e descendo. Um dos pássaros ficou na beirada do círculo de areia no qual ele estava “solto” o tempo todo. O bichinho ficou pegando impulso, se inflando, batendo as asas cortadas, querendo pular justamente para o banco no qual eu estava sentada. Era algo como 20 cms e o pássaro não podia fazer nada além de se pendurar na borda do seu poleiro. Nada. O outro passarinho estava todo depenadinho, parecia um papagaio de pirata. Ficou o tempo todo desanimado e tristinho andando de um lado para o outro.
A situação destes dois animais me fez pensar sobre a forma insensível que esta relação – humano com não-humano – se dá. Não que isso seja uma surpresa pra mim, na verdade estou careca de saber que a humanidade largou, com o perdão da expressão, um belo foda-se para os outros animais, humanos inclusive.
Mas o que me surpreendeu foi como as pessoas que passavam achavam graça nos passarinhos, achavam eles bonitos. A relação é tão virtualizada, tão pouco afetiva, tão eu-objeto, que as pessoas não são capazes de perceber o sofrimento evidente desses animais. Nem bonitos eles estavam! Quer dizer, estes animais são os que xs humanxs supostamente gostam, porque os escolheu como animais de estimação ou companhia – diferente das vacas, galinhas e outros tantos animais “de consumo” -, e nem assim conseguimos olhar para eles de maneira interessada.
Em um dado momento um garotinho de 6 ou 7 anos me fez pensar em uma outra coisa, que é também uma das motivações pra essa relação deshumanizada com relação aos animais. Ao ver os passarinhos no tal poleiro o garotinho puxou a mão do pai e disse: – Olha pai, um animal!
Ok, ele poderia simplesmente não ter querido falar pássaro, ave ou o que quer que seja, mas eu fiquei pensando sobre essas gerações, das quais inclusive faço parte, de gente com pouco ou nenhum contato com a natureza. Assim, eu tô muito longe de conceber o homem como algo alheio a natureza, mas vocês entenderam o que eu quis dizer. Estou falando de contato com algo que não seja eletrônico, digital ou de cimento e aço.
Nossa vida cotidiana se encontra tão distanciada de ambientes abertos, que não tenham sido planejados por arquitetxs e construídos por pedreirxs, e nossa proximidade com animais e plantas e terra e água e tudo é tão agendada, tão domingo-vamos-ao-zoológico que, ignorando a possibilidade de o guri simplesmente não ter querido falar pássaro, chega um ponto onde uma criança, crescidinha até, não sabe nomear um bicho. Nem olhar para ele como se ele não fosse uma pelúcia com motor.
O que eu quero dizer é: meu Deus, não somos capazes de olhar de maneira respeitosa e cuidadosa nem para aquelxs que estão próximxs de nós, olhando em nossos olhos? E se não somos, o que será dxs distantes? E isso vale para todos os animais, humanos e não-humanos.